Flor de Macambira

A cultura popular em espetáculo encantador
Grupo Ser Tão, da Paraíba, mostra no Rio sua versão
para o romance de Joaquim Cardozo

" Formado na Universidade federal da Paraíba, o grupo Ser Tão Teatro está fechando, no Rio, a turnê de “Flor de Macambira”. Elenco, técnica, cenário e equipamento cobriram, de ônibus, um percurso que incluiu sete estados. Se a palavra-chave do momento é inclusão, o Ser Tão a representa muito bem – seu trabalho foi oferecido de graça a comunidades carentes, que muitas vezes jamais haviam visto teatro, tendo sido sempre muito bem recebido.
“Flor de Macambira” tem por inspiração “O coronel de Macambira”, de Joaquim Cardozo, com Rosyane Trotta e o próprio grupo assinando a adaptação. Nesta, um misto de circo com o folguedo popular do boi conta a história de Catirina e Mateus, incluindo um toque de história exemplar ao mostra a luta entre o bem e o mal, lembrando a literatura de cordel. As peripécias do casal fazem a estrutura ser armada em vários episódios, com três dos atores se revezando em alguns personagens, sendo os bois, assim como os monstros e a serpente, muito bem executados.
O espetáculo é simples, com cenografia (Carlos Alberto Nunes), figurinos (Daniele Geammal) e máscaras (Bruno Dante) feitos com boa dose de imaginação e poucos recursos, o que o deixa muito próximo do público buscado nas ruas das cidades que visitou. A coreografia (Juliana Manhães) e a luz (Gladson Galego) complementam bem o conjunto, que tem ótimo apoio na direção musical de Beto Lemos e Zé Guilherme. A encenação de Christina Streva conduz tudo para a alegria e a harmonia, e o espetáculo se comunica muito bem com o público.
A interpretação é fiel ao tom e ao espírito do texto, com rendimento bastante bom dos atores: Isadora Feitosa (Catirina) e Winston Aquiles (Mateus), além de Cida Costa (Feiticeira), têm o privilégio de um só personagem, enquanto Gladson Galego, Thardelly Lima e Maisa Costa se desdobram em vários papéis.
Com apresentações gratuitas, hoje, no Parque dos Patins, na Lagoa, ás 19h, na terça-feira nos jardins do Centro de Letras e Artes da Uni-Rio, na Urca, ás 20h, e quarta na Praça da Rua do Mercado (Centro), ás 19h, o Ser Tão concluiu essa longa e bem sucedida viagem do seu encantador espetáculo."

Barbara Heliodora
(publicado no jornal O Globo de 27 de março de 2011)

OLHARES CRÍTICOS: Flor de Macambira
Por Sebastião Milaré

Uma visão da alma sertaneja vira festa e traz encanto ao espaço público. Mais do que isso, todavia, o espetáculo “Flor de Macambira” é teatro da mais alta categoria. Bebe em fontes da cultura tradicional, no cavalo marinho, no bumba-meu-boi, retirando desse solo fértil não apenas tipos engraçados (às vezes assustadores) e histórias exemplares, mas também arquétipos representativos da alma brasileira, para o bem e para o mal.
Colhe tais elementos e os conduz a sofisticados códigos teatrais com engenho e arte. A inspiração primeira foi a peça de Joaquim Cardozo “O Coronel de Macambira”. Mas o trabalho de adaptação de Rosyane Trotta, em processo de colaboração ativa dos atores, através de workshops, cria novo texto e novos contextos.
O fato de ter nascido na universidade deu ao Grupo Ser Tão Teatro, de saída, um ambiente favorável à pesquisa estética e maturidade no trato com o ofício, o que sem dúvida contribuiu para o resultado surpreendente da adaptação. Vigorosa e meticulosa, a diretora Christina Streva, antes professora desses mesmos atores, desde os primeiros trabalhos do grupo estimulou a extensão dos saberes acadêmicos à prática, à construção artística da obra. Assim é que os elementos da cultura tradicional tornam-se metáforas de situações atuais, voltando ao público com o frescor original, mas já enriquecidos por novos sentidos e novos significados.
Juntamente à pesquisa de temas, danças e tipos da cultura popular, ocorrem pesquisas de técnicas, em um aprendizado constante de meios expressivos. No espetáculo isto fica evidente pelo uso das máscaras. Elas não são apenas imaginativas e confeccionadas com requinte, mas o que é tão importante quanto ou mais: surgem em corpos bem preparados, que lhes dão sentido e ampliam seu efeito estético.  Fica patente o treinamento específico, que possibilita ao ator o melhor rendimento ao vestir a máscara.
Por qualquer ângulo que se examine o espetáculo encontram-se os vestígios de estudos profundos, de preparação consciente do ator, do espaço, dos adereços, da incidência musical, seja no arranjo ou na execução instrumental, como no canto. E tudo converge a um dado fundamental: o talento dos intérpretes. Têm domínio técnico, mas não fazem da técnica um fim e sim meio para realizar a poética do grupo.
As peripécias se desenvolvem com agilidade, prontidão e muita graça, narrando as aventuras e desventuras de Catirina, desde que abandonou a fazenda de Macambira, fugindo com seu amado Mateus, sendo incapaz de resistir às tentações do mundo. Em seu caminho cruzam tipos curiosos, que divertem e fazem impiedosa crítica a figuras como o padre mercantilista, o economista, o banqueiro, o marqueteiro, representantes de classes e instituições que de um modo ou de outro interferem no dia-a-dia de toda a sociedade. Crítica sorridente, por isso bem eficaz.
Pela alegria de sua manifestação, pela beleza dos elementos cênicos, máscaras e figurinos e pelo prazer dos atores em suas atuações, “Flor de Macambira” marcou momentos festivos, com suas apresentações, no 15º Festival Recife do Teatro Nacional.

Sebastião Milaré
http://15frtn.blogspot.com.br/2012/12/olhares-criticos-flor-de-macambira.html

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